domingo, 31 de outubro de 2010

- tic, tac, segundo por segundo...

Tentei. Olhei o relógio, encarei a folha em branco.
As horas? Voaram. Fui com elas.
Ou fiquei no mesmo lugar? Não!
Com toda certeza, avancei.
Eu fui, eu voltei.
Cadê minha força?
Escondida, como uma carta na manga
Esperando o momento certo...

Ando sendo calada
Pelos meus próprios gritos
Não é irônico?
Dane-se.

Hoje, o mundo todo me escutará
Trago um fósforo nas mãos
E atearei fogo na cidade

Quero algo que me faça atravessar a noite
Preciso das minhas entrelinhas
É só assim que consigo dizer...
Não! Nem assim. A folha continua em branco
Quero dizer, quero gritar. O que? Sei exatamente.
Impossível.
Quem sabe amanhã?


***
Uma hora, duas horas...
Quando dei por mim, seis horas!
Já é Novembro.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

- O que digo e o que não digo...


Quantas caras você tem? Eu tenho visto várias.


Como você está?


Estou com saudade...


Nunca soube exatamente como dizer tudo o que eu sentia, até porque, nem mesmo eu me entendia. Penso que às vezes, não preciso falar: se não explodo em palavras, explodo em risos ou lágrimas. Não há motivos e não há explicação. Versos, rimas, bilhetes e cartas não fazem mais sentido. Não há retorno. Logo pra mim...
Logo eu, que ao menos conheço sua letra, me escrevo nessas linhas sem medo. Me exponho, me viro no avesso. Sou sua de todo jeito, de dentro pra fora, principalmente a parte interna.
Cansei dessa história de entregar meu coração pra você, sabia? Não, não! Meu coração é meu, e só. O que tem dentro dele que é seu. Toda a loucura, inconseqüência e insensatez.
Enquanto isso, tudo se contradiz, inclusive eu. Não faço mais sentido, sou a falha na comunicação. Sou o erro ou estou errada? Não quero saber, não me conte.
Me faltam palavras. Só dei as caras pra dar um motivo a mais para que não se esqueça de mim. E pra roubar um sorriso.


Eu ainda...

Eu sempre vou...


Não sei começar, não sei terminar. Fico parada aqui, nesse nosso caso repentinamente já começado e interminável, então.

É só meu jeito dizer que é pra sempre...



“Sou mais um desses boçais que escreve tudo aquilo que deveria ser falado, e você é mais uma vítima que jamais vai ter atendido o seu desejo: saber. Mesmo consciente da sua boa vontade de me ouvir e entender, lhe escrevo, não posso ir além, não peça para remeter-me, esta carta não é para chegar, é uma carta de ficar.Para mim e para você, escrevo que, daqui de onde me encontro, você está longe e perto, e eu estou sozinho e não. Do que sinto, aviso que é forte, mas não é perigoso, é como um grande lago sereno, eu sou o píer, quase me precipito, você é todo o resto, toda água, tudo o que há. Mas somos dois e em vez de par, somos ímpares. Estou possuído por você e ao mesmo tempo permaneço impermeável, amo a seco, e rendido. Você não me acharia covarde, você não acharia nada: você não me conhece. Sou um vulto, um alguém, você foi gentil comigo como é com os garçons e os primos, com os pedestres e com os turistas, você foi o que sempre foi, e eu não fui com você: no terceiro minuto ao seu lado eu já sabia que era irremediável, e em vez de segurar sua mão e reverter-lhe a pressa, deixei que você fosse, eu fiquei. Os dias, os gestos, rituais cotidianos, surpresas, tudo corre, passa por mim, menos o susto deste amor que entranhou-se feito limo, umidade em peito árido, me sinto tomado, absorvido, e não encontro método ou coragem para dizer: você que é motivo e dona desta represa, fique comigo, pois é só o que eu sei fazer, ficar.Mas você é ligeira, em movimento constante, você não senta, não repara, quer vida demais, sedenta, me fisgou muito rápido, e eu sou lento, estudado, incapaz de um repente, apaixonado por uma mulher impaciente, que suplica com o olhar e não espera, você se foi, em frente, quando deveria ter ficado.”

(Martha Medeiros – Carta extraviada 4)

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Fora de mim


Entre tanta escuridão, a qual venho escrevendo sobre há algum tempo, uma luz enfim. Um pequeno gesto que, pra mim, é indescritível. Algumas pessoas jamais saberão como é a beleza das pequenas coisas, e por isso posso apenas lamentar.
É, hoje descobri que ainda existem pessoas especiais nesse mundo. Ganhei uma surpresa fora de hora, dessas que tiram o ar, sabe? Um presente de duas amigas, mãe e filha. E foi inesperado.
Sem saber, elas me roubaram um segredo, esse de gostar de pequenos gestos, talvez mais do que qualquer outra coisa nesse mundo. Me roubaram um sorriso e em contrapartida, com essas palavras, roubarei dois. Eu sei que estão sorrindo.
Ganhei a noite, com o bônus especial de saber que ali, bem do outro lado, existem duas pessoas que se importam e realmente sabem o verdadeiro significado da expressão "querer-bem".
Querer-bem não é dizer bom dia todo dia. Querer bem é fazer o dia de alguém feliz, como elas fizeram do meu.



Obrigada Marcela. Obrigada Nara.
Love you guys. A LOT.



"(...)Por não ser ao vivo, perde o caráter afetivo? Nem se discute que o encontro é sagrado. Mas é possível estar ao lado de quem a gente gosta por outros meios. Quando leio um livro indicado por uma amiga, fico mais próxima dela. Quando mando flores, vou junto com o cartão. Já visitei um pequeno lugarejo só pra sentir o impacto que uma pessoa querida havia sentido, anos antes. Também é estar junto. Sendo assim, bilhetes, e-mails, livros e quindins na portaria não é distância: é só um outro tipo de abraço. Sinta-se abraçado."
(Martha Medeiros - Quindins na Portaria)


Afinal, não é todo dia que se ganha um livro autografado pela Martha Medeiros, né?

domingo, 10 de outubro de 2010

- tudo o que sei e, ao mesmo tempo, não sei...


Você vem sempre aqui? Não é a primeira vez que te vejo e sim, tenho certeza disso. Acho que te conheço mais do que você pensa (e, talvez, menos do que acredito). O que são essas olheiras? Porque está tão triste? Não, não fica assim. Eu estou aqui e tenho te observado daqui dessa mesma cadeira. Você, sempre do outro lado da sala, com a cabeça nas nuvens. Ou realista demais? Não sei dizer.
Entre um gole e outro do meu refrigerante, você sorri. A pressa é perfeitamente notável, impecavelmente polida todos os dias, eu sei. Comigo também é assim, no fim das contas, acho que não somos tão diferentes. O meu segredo é fingir seguir as regras.
Alguém desenhou uma linha no meio da sala: O lado direito é seu e o esquerdo é meu. Quem atravessar primeiro, perde. E eu não quero perder... Prefiro continuar na cadeira. Antes sentir saudade, com plena consciência de que você está ali do outro lado, do que nunca mais te ver e saber que perdi. Me chame de covarde, eu não me importo. Não sei perder, não quero. E jogar mentindo (ou omitindo) é o mesmo que perder pra mim. Quero essa linha apagada, não quero um limite para precisar atravessar. O que fazer? Não sei. Não sei esperar. Empatamos...





“Will you stick with me through whatever or runaway?”
(Vanessa Hudgens – Say Ok)

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

- liberdade, invisibilidade, reciprocidade e muita, mas muita saudade...

O invisível é essencial aos olhos de um poeta. Quem mais veria a delicadeza mínima dos seus gestos e a plena verdade escondida em suas palavras que muitas vezes são mentirosas? É, você é invisível e eu estou aqui esta noite, me isolando do mundo ao seu lado. Não fazíamos isso há algum tempo e dizer que não senti saudade seria minha pior mentira. Será que você saberia? Espero que saiba me ler, pois sou uma garrafa com um bilhete dentro, flutuando bem no meio do oceano. Com sorte, o destino me levará até suas mãos e você finalmente saberá todas as verdades que eu nunca quis te contar. Não que eu não confie em você, mas sempre tive medo de deixar de ser um mistério, de perder a graça. Bobagem, eu sei. Até quando não quero sou infantil. Assim mesmo, por um acidente do acaso.
Não deveria, mas gosto muito de estar com você. Gosto da colocação das palavras, das suas piadas sem graça e principalmente da reciprocidade de sentimentos que se estampa em seus olhos. Invisível, mas eu vejo. A não ser que eu esteja enganada.
Acho que foi tudo um sonho. Hoje, ao acordar, olhei pro céu e sorri. Ele estava brincando de imitar meu coração: Chovia. Olhei pros lados e não te vi, procurei por você até no vento que entrava sorrateiro pela janela do meu quarto, mas nem o seu cheiro eu senti. Peguei o celular, disquei seu número. Quando dei por mim, estava sem sinal. Resolvi te procurar na rua. Foi aí que o mundo real se despiu sem pudores diante dos meus olhos: muito amor banalizado.
Será que eu estava invisível? Uma vez, mesmo que em segredo, eu te disse que permanecia trancada dentro de você, conseqüentemente, qualquer coisa que fizesse ou qualquer lugar que fosse, eu estaria junto de uma forma ou de outra. Bem ou mal. E enquanto te procurava, quando menos esperei, você passou na minha frente, mas fingiu que não viu. E bem naquela hora você abriu a porta, e eu saí...






“You’ve got me feeling like the last survivor...”

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

- um bilhete anônimo, mas não pra mim...


Lá estava eu naquela noite chuvosa de quarta-feira apreciando meu café quando, sem que eu percebesse, arrancaram um pedaço de mim. Não sei dizer exatamente qual foi, mas deixou saudade. E permanece...
Perdi tanto e quero tudo de volta agora. Nunca fui muito paciente. Quero poder dizer tudo literalmente, mas estou presa nas minhas entrelinhas e preciso que você me encontre aqui, eu nunca fui embora. Viver respeitando os limites é uma coisa, mas viver destruindo valores é outra, e eu não posso destruir os meus. Tudo o que havia me parece poeira no vento, mas ainda assim consigo sentí-la ao passar o dedo pelos móveis. Não posso torná-la inexistente. Apenas posso varrê-la, mas sempre volta... e isso me conforta.
Eu grito, mas ninguém me ouve. Eu falo e ninguém entende.
Criei uma porta linda e me tranquei do outro lado. Lá, havia um paraíso: o meu. E foi roubado. Quando tentei sair, me dei conta de que trocaram a fechadura. Olhei pra trás e o que havia me restado era apenas uma sala com uma poltrona velha e uma máquina de café. Do que adiantaria? Eu nem sei fazer café.
E foi só pensar nisso, que uma xícara apareceu. Do lado dela, tinha um bilhete: "Eu sei que não deveria, mas fiz pra você". Procurei pela assinatura, mas não precisava. Eu sabia de quem era. Sorri, mas ninguém viu.



Tomei um gole e queimei a língua...





"O que me separa de você agora
Um avião, um oceano, outros planos
E muitos enganos
(...)Como voltar?
"No way"
Não sei nem divagar sobre nós
Como voltar?"
(Zélia Duncan - O meu lugar)