segunda-feira, 4 de outubro de 2010

- um bilhete anônimo, mas não pra mim...


Lá estava eu naquela noite chuvosa de quarta-feira apreciando meu café quando, sem que eu percebesse, arrancaram um pedaço de mim. Não sei dizer exatamente qual foi, mas deixou saudade. E permanece...
Perdi tanto e quero tudo de volta agora. Nunca fui muito paciente. Quero poder dizer tudo literalmente, mas estou presa nas minhas entrelinhas e preciso que você me encontre aqui, eu nunca fui embora. Viver respeitando os limites é uma coisa, mas viver destruindo valores é outra, e eu não posso destruir os meus. Tudo o que havia me parece poeira no vento, mas ainda assim consigo sentí-la ao passar o dedo pelos móveis. Não posso torná-la inexistente. Apenas posso varrê-la, mas sempre volta... e isso me conforta.
Eu grito, mas ninguém me ouve. Eu falo e ninguém entende.
Criei uma porta linda e me tranquei do outro lado. Lá, havia um paraíso: o meu. E foi roubado. Quando tentei sair, me dei conta de que trocaram a fechadura. Olhei pra trás e o que havia me restado era apenas uma sala com uma poltrona velha e uma máquina de café. Do que adiantaria? Eu nem sei fazer café.
E foi só pensar nisso, que uma xícara apareceu. Do lado dela, tinha um bilhete: "Eu sei que não deveria, mas fiz pra você". Procurei pela assinatura, mas não precisava. Eu sabia de quem era. Sorri, mas ninguém viu.



Tomei um gole e queimei a língua...





"O que me separa de você agora
Um avião, um oceano, outros planos
E muitos enganos
(...)Como voltar?
"No way"
Não sei nem divagar sobre nós
Como voltar?"
(Zélia Duncan - O meu lugar)

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