sábado, 20 de março de 2010

Éramos dois


Éramos dois despreocupados. Eu te olhando enquanto você não percebia e você me observando com ousadia.

Minha covardia era explícita. Olhar-te nos olhos poderia ser fatal, causando-me danos permanentes. E você tinha muita coragem. Admirável, jogando com as palavras e as situações.

Éramos dois sossegados, sentados na mesa no canto do bar, escutando o músico que usava roupas velhas tocar. Ríamos por pouca coisa, até de nós mesmos.

Os carros continuavam passando, seguindo em várias direções. Aviões voando, pessoas falando, música tocando, velas se apagando... tudo tinha uma continuação, até nós. Eu continuava suas frases e você continuava em mim.

Tudo se completava de algum jeito. Éramos encontro e desencontro. Éramos dois ambíguos.

Tínhamos nossas diferenças, como todo mundo tem. De longe eu sentia seu cheiro e como num passe de mágica, você estava bem na minha frente. Você era o pavio, eu era a chama.

Às vezes éramos dois estranhos e isso acontecia com tanta freqüência, que virou rotina.

Saudade dói porque não traz ninguém de volta.

Éramos dois...









"o que eu lembro de nós, e teria tanto pra lembrar, são apenas as mãos entrelaçadas
naquela tarde numa mesa de calçada, era um bar, nada mais havia para conversar
tentamos dizer as últimas palavras, dar um epílogo decente ao nosso amor
mas nenhum sentimento era soletrável, parecíamos dois gagos rumo à desistência
então tuas mãos pegaram as minhas, teus dedos brincaram com meu anel
e nem era um anel dado por ti, jamais perguntaste sobre meu passado
e meus dedos encaixaram-se entre os teus, e as pontas dos polegares roçaram-se
e os chopes esquentaram, o silêncio tomou posse da mesa, nossas mãos de uma ternura que seríamos incapazes diante do final, e é delas que eu lembro, não envelheceram
te amo com as mãos até hoje, te escrevo, agora escreva pra mim, com as tuas"
(Martha Medeiros)






;- make a toast to the moon and drink...

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