segunda-feira, 22 de março de 2010

Sem sinal

Você costumava estar comigo em todos os segundos. Você estava comigo naquela noite que eu não conseguia dormir, estava comigo quando eu andava à pé no centro da cidade debaixo do sol. Você estava comigo em todas as coisas, no tic-tac do meu relógio, no cheiro da minha roupa limpa, na ponta dos meus dedos toda vez que resolvia escrever. Nas flores do jardim da minha casa que ficavam mais bonitas à cada dia. Até no ursinho de pelúcia jogado na minha cama, quando eu o abraçava antes de dormir.
Sabe o que é mais estranho nisso tudo? Há um segundo atrás nada havia mudado. Eu ainda conseguia te sentir aqui e você continuava em todas as coisas e lugares. Continuava em mim. Você era meu melhor sonho e ao mesmo tempo, meu pior pesadelo; essa noite acordei com um susto e me coloquei em pé antes mesmo de um segundo se completar, como se uma pancada muito forte tivesse me atingido com precisão no meio do peito. Olhei pros lados, você não estava; e naquele instante eu literalmente implorava por ar. Foi quando percebi a imensa falta que você me faz e isso muda tudo.
São coisas que eu não deveria sentir, mas sinto. Fazer o que? Então pronto, eu lhe dou a permissão de invadir minha vida de novo. Bata na porta do meu quarto e entre. Vai, detona! Rasgue todas as fotos do meu mural, queime todas as cartas, passagens e ingressos que guardo de recordação. Jogue fora todos os presentes que ganhei. Preencha toda essa droga de vazio com a sua presença de uma vez por todas, não precisarei de mais nada. Não suporto essa demora. Há um segundo atrás eu ainda te sentia aqui, como pode tudo ter mudado? Intuição? Espero que não...
Nesse exato segundo não sinto mais nada, como se tivesse uma repartição entre o mundo e a mim. Me desconectei de tudo, sou uma televisão sem sinal.
Tic-tac, tic-tac...
Sou uma bomba-relógio pronta pra estourar.
Tic-tac, tic-tac... me traz de volta, que seja apenas uma falsa presença, mas seja.
Tic-tac, tic-tac...
Vai passar, vai passar, vai passar....









"(...)Todo o resto e muito vasto. E nossa porra-louquice, nossa ausência de certezas, nossos silêncios inquisidores, a pureza e inocência que nos mantem vivas dentro de nós mas que ninguém percebe, so porque crescemos. A maturidade é um álibi frágil. Seguimos com uma alma de criança que finge saber direitinho tudo o que deve ser feito, mas que no fundo entende muito pouco sobre as engrenagens do mundo. Todo o resto é tudo aquilo que ninguém aplaude e ninguém vaia, porque ninguém vê."

(Martha Medeiros)

- No air, no air... ♫

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