quinta-feira, 18 de março de 2010

Minuciosamente


Eu gosto dos mínimos detalhes, e daí? Aqueles mesmo que (quase) ninguém nota. Hoje, aquele sentimento que todos chamam de amor, bastou-se em beleza exterior. Tudo bem, é ridículo dizer que “o que importa é o interior”, mas é. Não é porque é ridículo que é não é verdade.

Futilidade me cansa. Gosto de pessoas que são bonitas e têm o corpo escultural, mas isso não é essencial. Minha escolha é fundamentada nos olhos, sejam eles azuis ou castanhos. No sorriso, especialmente se for um sorriso de canto de boca, com covinha. O som da gargalhada me encanta. A forma de mexer nos cabelos, o jeito de se vestir, mesmo que não sejam roupas de marca, que seja uma camiseta velha... se lhe cair bem, ponto final.

Prefiro estar sentada em um restaurante quase vazio – afinal, lugares totalmente vazios, tornam-se monótonos – ao som de Kenny G, em uma noite de verão à uma balada. Quero espaço pra dançar, mesmo que seja uma música lenta. Gosto de observar a delicadeza (ou falta de), de cada movimento. As flores que me esperam à mesa. O ritmo, as luzes, todas as cores. A cera pingando enquanto a vela lentamente se apaga. O tic-tac do relógio. Os brindes, os olhares...

As bochechas, as mãos, as orelhas. A cor do sapato. A voz, a forma de segurar na taça de champagne e a forma de bebê-lo.

Detalhes sãos como obstáculos inevitáveis e se apreciá-los for pecado, por mim tudo bem. Afinal, tudo o que é fútil sempre me pareceu fácil demais. Ou vice-versa.








Martha Medeiros é simplesmente fantástica. Uma das únicas que consegue (quase) expressar com maestria e exatidão tudo o que sinto, afinal “nem toda voz que canta o amor diz tudo o que quer dizer”.



“ (...)Sua amiga que piscou o olho pra você lá do outro lado da festa, o afeto atravessando o salão e desviando dos convidados que separam vocês duas. A chama da vela que balança porque você está gargalhando. O casal que caminha na noite escura na beira da praia, agasalhados e agarrados, achando que ninguém os vê. Um resto de bolo dentro da geladeira.

O canhoto do cartão de embarque no fundo da bolsa. A almofada que caiu do sofá da varanda por causa do vento. O vapor que embaçou o espelho do banheiro depois do banho. A mochila em cima da cama da sua filha. Seu filho dormindo.

A poesia é uma fatalidade do olhar. Basta um frame de segundo e ela se revela, para então se esconder novamente atrás da pressa, do tédio, do desencanto, do hábito, do medo do ridículo que paralisa todos nós. Eu hoje não vim aqui para trabalhar, vim estimular o mistério.”

(Martha Medeiros)

Um comentário:

Carla Oliveira disse...

O detalhe é o que faz a diferença, concordo com você. E as mesmas coisas que te atraem, me atraem. Sorriso e olhar, pra mim, é a melhor coisa do mundo!!!