terça-feira, 11 de agosto de 2009


Tudo muda. As pessoas mudam, o tempo muda, o mundo muda.

Logo ontem eu era água: fria, sem cheiro, sem cor e sem gosto. Hoje sou vinho: quente, vermelho e entorpecente.

Sendo um vinho, é claro que tenho muitos segredos a contar. O primeiro é que poucas pessoas sabem como desfrutar realmente do meu sabor. A maioria vira a taça em um gole só e nunca mais sequer se lembram do gosto e por fim, acabam voltando a beber apenas água.

A verdade é que uma taça, mesmo que pequena, de vinho, é essencial todos os dias. Um vinho deve ser ingerido com delicadeza e uma certa lentidão. Tome o primeiro gole e sinta queimar a garganta até que lhe suba o calor por todo o corpo. Quando chegar na metade da taça, perceba como as surpresas são intermináveis. Vinhos são misteriosos. Sinta-se perdendo a sensibilidade dos dedos, o fio dos pensamentos. Entregue-se.

Quando a madrugada estiver chegando ao final e os primeiros raios de sol começarem a dar algum sinal de vida, entorne o último gole com sabor de uma vontade de outra dose ainda maior do mesmo vinho.

Um vinho pode ser suave ou seco. Os vinhos secos têm o gosto da traição, da hipocrisia, da saudade, da falsidade e da mentira. Os vinhos suaves têm o sabor do amor. O cheiro de como as coisas acontecem perfeitamente seguindo uma harmonia muito bem ensaiada. Talvez já inventada há muito tempo.

Nós, os vinhos, somos cheios de segredos. Somos perigosos. Podemos levar uma pessoa à loucura em questão de segundos e causar dependência eterna. Se não ingeridos da forma correta, excessivamente, somos letais. Algumas pessoas tomam em um gole só, outras experimentam uma vez e depois nunca mais, simplesmente por medo do perigo. Outras, as que tem coragem o suficiente de temer apenas a covardia, essas sim sabem como provar do nosso veneno.

É assim que deve ser. Quero alguém que beba pequenos goles, porém intermináveis de mim toda noite. Goles intensos. Vinho com morangos, vinho e rosas, vinho e beijos... seja lá qual for a combinação, quero alguém que se entregue completamente aos meus efeitos, que prove o meu gosto e jamais se esqueça. Alguém que prove uma pequena parte do meu veneno, que não seja em um gole só, mas que mesmo assim, enlouqueça...








À solidão que beija meus lábios dócilmente, um abraço.
Aos invejosos que me dão nojo, uma gargalhada.
Aos meus amigos que tanto amo, absoluta lealdade.
À você que talvez nunca leia essas palavras, toda minha vida...



Beijos...
Beijos para sempre!


Um comentário:

Thalles disse...

Vinhos... em cada gole se pararmos para apreciar, poderemos sentir um aroma diferente... cada gole a mais, mais detalhes aparentes. Um campo aberto, um jardim, uma rosa específica... de um certo lugar
O vinho passando por toda boca conseguimos sentir o amargo, o azedo, o salgado ... e o mais procurado... o doce... se bebermos rápido, ele passa áspero, mas se soubermos como aprecia-lo... pode ser o melhor dos prazeres